Pra quem sabe cair do cavalo – Cavalariça, Comporta

Quando pequena, fiz aula de equitação. Tempos curiosos, aqueles…

Meus pais, orgulhosos, ganhavam elogios ao mostrar a foto da filha lindinha, toda fantasiada com calças de culote, capacete, bota, luva, paletó e chicote de couro. Eu, ganhava os tombos. 

Mabrouk era espetacular e nosso amor foi lindo, enquanto durou. Gostava de alisar sua crina e dos dentões que arreganhava enquanto mordia os torrões de açúcar em minhas mãos. Me sentia invencível naquele trote flutuante ao dar voltas pelo picadeiro enquanto fazia os exercícios de ritmo, respiração e solidez sobre a sela. 

Tudo parecia perfeito, até que o infeliz latido de um cachorro ou a buzina inesperada de um carro faziam o bicho lembrar que era um cavalo de salto e se esquecer de mim. Mabrouk relinchava, sacudindo a cabeça, desviava da rota, partia para o meio do campo num galope enlouquecido e wooooooshhhh, saltava um obstáculo. 

Nas 15 vezes em que algo o assustou, eu caí. Meu orgulho se limitava a tentar despencar um pouco mais adiante, depois do terceiro ou quarto salto, mas não tinha muito jeito. Foi curta a minha carreira no hipismo. Ao menos, acabou antes que Mabrouk me matasse. 

Mesmo coberta de hematomas, não contava nada em casa. Foi tudo bem na aula? Foi.

Vocês podem me achar esquisitinha, mas no dia em que resolveram trocar meu cavalo, parei com o treino. 

Para evitar lembranças masoquistas, evitei cavalariças desde meus 11 anos de idade, até que encontrei as de Comporta. 

O site do hotel em que ficamos trazia algumas comparações para “situar” os clientes: Comporta é como “os Hamptons dos anos 70, St.Barth dos anos 80, José Ignacio dos anos 2000”. Sinceramente, achei a cidade bem mais pé no chão, com mais qualidade e menos afetada que todos os lugares citados. Talvez José Ignacio seja o espírito mais parecido em tamanho, proposta e público. 

Já tinha lido sobre o restaurante situado nas antigas cavalariças da cidade e, se havia algum desejo gastronômico em mim, era o de conhecer aquele lugar. 

O espaço era lindo, claro, com pé direito alto e janelas de madeira colorida. Nos vãos generosos das antigas baias pintadas de branco ficavam as mesas maiores.

Dizem que famoso por lá é o prato de frango, mas como estava entre amigas loucas por vegetais, fizemos um belo desvio nessa direção.

Não sei dizer o que estava melhor: o pão magnífico (tão bom quanto a manteiga curada e o azeite que o acompanhavam); as croquetas de ombro de porco com maionese de mexilhões e semente de mostarda; a abobrinha orgânica sobre queijo de soro de leite com manjericão; a couve flor assada na frigideira com couve sauté e vinagrete de alho-poró; o divino roll de legumes em folha de repolho e hoisin de amêndoas; o tempurá de couve com cebola e hummus de feijão branco ou a cenoura defumada com creme de amêndoas assadas e laranjas sanguíneas. Tudo excelente.

Então, a nota triste:

Ninguém vai lhe avisar, no momento da reserva, que à noite não circulam mais táxis em Comporta (eram quase 23hs quando terminamos o jantar e ficamos três mulheres ligando para a única cooperativa de taxis da cidade, sem nenhum apoio da casa, do lado de fora). Para evitar aborrecimentos, recomendo fortemente arranjar de antemão o transporte da volta. 

Eu devia ter previsto que, numa cavalariça, a história só podia terminar com um tombo. Doeu, como doíam os da infância, mas continuo esquisitinha… e volto.

http://www.cavalarica.com

4 comentários sobre “Pra quem sabe cair do cavalo – Cavalariça, Comporta

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