Tô com cara de crítica?

O espírito (nada crítico) desse blog. Único texto antigo do novo espaço, porque o princípio continua o mesmo (escrevi em 2013).

“Sou sempre crítica em relação a qualquer crítica. Opiniões são de cunho pessoal e respeitamos aquelas que vêm de pessoas que admiramos. No mais, viva as diferenças!

Na análise de um restaurante, assim como em tudo na vida, não conseguimos nos despir das paixões, das influências, do momento, do “lastro” das grandes marcas, do ambiente, da companhia e tantos outros fatores que podem subsidiar críticas injustas.

A que serve alguém achar que sua opinião é realmente relevante? A nós mesmos. Por isso nunca me levei muito a sério. Minha busca é crescer, dentro daquilo que mirei para mim.

Como dona de restaurantes sou sujeita a críticas, e tenho muito orgulho da coragem que requer essa exposição, dado o interesse desproporcional em relação à gastronomia no mundo em que vivemos, que se tornou uma brincadeira clubista, modista e algo muito maior do que fazer um bom produto e prestar um bom serviço. Como conheço o outro lado da moeda, tenho muito cuidado e julgo uma imensa responsabilidade avaliar o trabalho de terceiros.

O preocupante é a obediência cega às notas, listas e rankings, mas isso fala da maturidade de cada um e do ambiente cultural em que vivemos. O que me incomoda é o olhar de rebanho sobre os críticos, porque ainda que digamos que não, buscamos o consenso, conforto e “aceitação” na opinião de terceiros, a despeito do nosso gosto pessoal.

Minha opinião vale algo? Muito provavelmente não, mas é uma opinião de quem ama o que faz, e o faz há muito tempo. Essa é a filosofia que adoto por trás de qualquer “degustação”, seja de comida, bebida ou música.

Bom é tudo aquilo que me arrebata, e aí posso falar de uma infinidade de restaurantes “menores” ou “cheios de defeitos”, que me encantaram por estar com a companhia certa, ou por virem na hora certa. São estes, principalmente, os que escolho para este blog.

A quem serve o consenso dos críticos? A ninguém. Por isso faça as suas visitas e seus rankings, e parabéns pela opinião divergente. Não existe melhor do mundo, existe, sim, o melhor DO SEU MUNDO”.

[os textos dos últimos 12 anos estão lá, ainda, no crisbeltrao.blogspot.com}

O presente certeiro – Senhor Uva, Lisboa

ACIMA, A CHARMOSA MESA COMUNITÁRIA PRÉ-COVID, HOJE SUBSTITUÍDA POR MESAS DE DOIS, COM DISTANCIAMENTO

Cerejas do Fundão, chás, flores, uma bolsa que tenho.

Coleciono os poucos “gostares” de uma amiga querida para ver se a surpreendo quando nos encontramos, mas ainda não consegui. Cerejas fora de época, a bolsa fora de linha… O que dar a alguém que precisa de pouca coisa? Não sei, sou igual.

Preciso de pouca coisa e, ainda, gosto de pouca gente. A vantagem é que me basta quem traz.

Foi antes da pandemia e pelas mãos da amiga, que me encantei com o pequeno bistrô de vinhos naturais e cozinha vegetariana, em Lisboa. Se você não faz parte de nenhuma dessas tribos, pouco interessa. O lugar é bom.

Da primeira vez, adorei os brócolos assados com iogurte cítrico, couve, raiz de aipo, sementes de cânhamo, avelãs tostadas e gema de ovo ralada em cima do todo. Viciante, e a culpa não foi do cânhamo.

ABOBRINHAS COM MOLHO PONZU

Da última, me encantei pelas abobrinhas com molho ponzu, semente de mostarda, crocante de arroz frito e funcho do mar (foto acima) e, ainda, pelos morangos com creme de queijo de cabra e biscoito de pistache, que fecharam a noite (foto lá embaixo).

A carta é, em tamanho e conteúdo, perfeita. Cheguei a hesitar por um segundo e meio antes de pedir um vinho da Filipa Pato que queria muito provar. “Talvez ainda esteja jovem…”, pensei. “Pouco importa, eu não estou tanto.”, concluí. E lá foi a garrafa.

LINDEZA DA FILIPA PATO

O nome é “Nossa Missão”, vinho feito exclusivamente de baga, de videiras pre-phyllloxera com mais de 100 anos. Uma linda explosão de fruta com acidez muito viva. Registramos zero arrependimentos.

Entre minha primeira e a última visitas, o casal de sócios (Marc Davidson e Stéphanie Audet) abriu a loja “Senhor Manuel”, do outro lado da rua, com mais de 250 rótulos de vinhos, além de azeites, vinagres e cafés. Não bastasse, também servem ostras, petiscos e piqueniques para levar. É um canto muito feliz, aquele.

Ainda me lembro do dia em que a amiga me disse: “Acho que você vai gostar do Senhor Uva. Eu adoro. Vamos?
Cerejas do Fundão, chás, flores, uma bolsa que tenho e… o Senhor Uva.
Na dúvida, já sei o que dar.

MORANGOS COM CREME DE QUEIJO DE CABRA E BISCOITO DE PISTACHE

SENHOR UVA

senhoruva.com