Uma viagem feita de coisas que não fiz

Castelo “inventado” de Folgosinho

– Tá vendo aquela ovelha? É a mais velha, tem o chocalho maior. Em breve, vira chanfana.

– Porcos? Antigamente não havia aqui no topo simplesmente porque não pastam. Disputavam a comida com a gente e o suprimento aqui no alto é escasso.

– Sabe aquela única árvore no meio dos arbustos? Quando há um verde mais vivo ou árvores é porque ali existe uma linha d’água. Aquele rio que não tem nome porque não dura: no Verão está seco, no Inverno corre água.

– A planta que cresce primeiro, logo após um incêndio, é o “feto”. E fetos são dourados.

Falar com a gente dali e aprender pequenas coisas ajuda a entender a Serra da Estrela. “Não vá no Inverno, especialmente depois dos incêndios!”, me disseram. Pois fui, a filha queria ver a neve, que não compareceu. E daí? Adorei. É boa época para ler entrelinhas e entender as dificuldades históricas, quando a vegetação exuberante não ofusca todo o resto.

Claro que deve ser lindo o lilás das urzes e o amarelo e branco das giestas, na Primavera. Dizem que o Outono no Covão d’A Ametade é espetacular. Não vi nada disso. Bastou eu sair de lá, aliás, para cair o primeiro “nevão”. Ao que parece, Folgosinho coberta de branco ficou um encanto.

Não se sabe ao certo qual foi o rei de Portugal (Afonso Henriques ou Sancho I) que teria dito: “Descansemos aqui e vamos tomar um folgosinho de ar”, daí o batismo da aldeia. A lenda varia, mas não importa; essas folgozices fazem a graça de Portugal.

Nos dois dias em que lá estive, logo depois do Natal, ainda ardiam os “madeiros”, tradição antiga nas aldeias e uma espécie de rito de passagem para a idade adulta: os rapazes, no último ano antes de cumprirem o serviço militar deveriam subir a serra e buscar os troncos de carvalho ou azinheira mais grossos que achassem e levar até o adro da igreja ou praça maior, na noite de Natal. As meninas se encarregavam de enfeitar carroças e bois com fitas e flores. Como esse tipo de madeira costuma queimar por vários dias, a roda virava ponto de encontro dos jovens.

Era dia 27 e o monte de lenha queimada, perto da hora do almoço, abria o apetite.

A ideia era comer n’O Albertino, lugar simples de comida típica (queijo de ovelha, cabritos, javalis, arroz doce e tal). Acreditem se quiser, por 19 euros se faz a farra com 3 entradas, 4 pratos e mais 3 sobremesas, com vinho da casa e pão. Eu juro. É muita comida. Adorei tudo que espiei ali, mas estava lotado.

O Albertino fica estacionado na minúscula praça, lindinha, que estava ainda mais prosa naquele dia com as fitas de crochê coloridas enroladas nos troncos e umas bolas de Natal, de palha crua ou pintadas de vermelho, penduradas nos galhos. Aliás, quase não encontramos vaga na aldeia porque uma dúzia de carros ocupava todas as disponíveis. Nunca esteve tão cheia – disseram – é o turismo! E apontaram para umas placas em inglês aqui e ali pelas casas, oferecendo quartos.  

a melhor versão de árvore de Natal que já vi

Decidimos que o almoço ia virar piquenique.

Além daquele desenho comum às aldeias vizinhas, feito da igreja, pracinha, lojinha e uma tripa de casas à volta, Folgosinho tem um castelo “inventado”, um castelo de ninguém. Na verdade, parece uma torre vigia. Dizem que Viriato, herói da Lusitânia no tempo dos romanos, teria lançado as primeiras pedras para poder avistar o perigo de longe. Dizem…

Partimos para Sabugueiro que nos recebeu com a placa “a aldeia mais alta de Portugal”. Há pelo menos duas outras que disputam o título, mas o importante é que ali, todos acreditam.

Paramos no Café Estrela d’Alva, que ninguém chama assim. É a “Casa das Marias”, da Maria de Lourdes, mãe, e da Maria, filha. A loja tem toldo verde e letreiro “bom queijo – presunto – enchido” com adesivos coloridos pregados no vidro, além das peles e moletons na entrada que dificilmente me atrairiam, não tivesse sido levada por um amigo que jurou que ali acharia o serviço mais simpático das aldeias. Não mentiu.

Lenço na cabeça e vestido longo preto, D.Maria de Lourdes é uma aldeã caricata de bochechas rosadas, tão idosa quanto simpática, que me alimentou sem parar. Seguindo a minha filosofia de que comer em pé não engorda, aceitei tudo sem qualquer resistência: licor de sabugueiro, de medronheiro, ginjinha, chouriço, paio… Entre um naco enfiado em minha boca e outro, tombei de amores pelo Serra da Estrela Velho.

O queijo da Serra, feito de leite cru de ovelhas da raça bordaleira ou Churra Mondegueira, sal e cardo, vocês já conhecem, mas nunca tinha provado o “Velho” [adoro a falta de sutileza], que é maturado por mais de 120 dias.

A casca não é boa de comer, mas linda de ver, feita quase sempre com colorau e azeite. O que comi tinha uns 150 dias. O odor era intenso, o sabor forte, a textura era macia e quase nada granulosa. Era frutado e um pouco picante, por isso se serve com alguma compota ou fruta fresca para limpar o palato e o “punch” do bicho. Levei dois.

Comprei também os típicos BISCOITOS DE AZEITE, que têm gosto de bolo branco comum com açúcar cristalizado em cima, com a surpresa de levar aguardente na massa. O MEL DE URZE, também indispensável, é feito do arbusto abundante na região. Denso, viscoso e escuro e tem um fundo amargo, como já notei nos méis de outros arbustos de regiões bem secas. O LICOR DE SABUGUEIRO, que batiza a aldeia, é muito aromático e delicioso. Levei também, claro, além da ginjinha feita ali na Serra. Só não levei D.Maria de Lourdes “coisa-mais-doce” comigo, porque a filha ficaria enciumada.

Catamos uma cesta de piquenique no hotel e juntamos aqueles achados a outros típicos dali: um Quinta da Passarella A Descoberta, uns enchidos, uma geleia de CEREJAS DO FUNDÃO – as preferidas em todo o mundo – um PÃO DE URTIGA e paramos para o piquenique diante da barragem e junto às dez capelas que compõem o Santuário de Nossa Senhora do Desterro (erguidas ao longo de mais de 200 anos – entre 1650 e 1892) nas margens do rio Alva.

Afinal, não teve neve, não teve o restaurante na aldeia, sei lá se Viriato viveu em Folgosinho e Sabugueiro não é a aldeia mais alta, mas tinha todos os motivos para levantar as mãos para o céu e agradecer.

Veja mais fotos e vídeos no meu destaque do Instagram [aqui]

Com ou sem som? Dois bistrôs em Paris

Meu metabolismo e eu nos separamos há algum tempo e estou virando uma daquelas pessoas que, se pudesse, jantava às 17:30hs, o último horário em que o corpo aceita trabalhar, sem reclamar. Ali, a casa só abria às 19hs, mas dez minutos antes já estava à porta lançando um olhar mendicante à recepcionista. 

Gosto de ser a primeira a entrar e da energia que vem com a montagem do primeiro prato do turno, quando a equipe ainda não está estressada ou cansada. Sim, se come melhor. Este pequeno preambulo, como queríamos demonstrar, só prova que estou velha e ranzinza.  

O KGB, filhote do Ze Kitchen Galerie (daí se chamar Kitchen Galerie Bis) não é nenhuma novidade e faz sucesso desde 2009. Nunca experimentei o filho porque adoro o restaurante-mãe e acho mais seguro voltar, mas graças à morte do meu metabolismo, decidi arriscar. Talvez o filho menos importante não me faça sentir obrigada a provar o cardápio inteiro – pensei. E o demônio sentado no meu ombro esquerdo gritou: “Brava! Viva a falácia que sempre acompanha as derrotas na sua balança!”. 

Clop, clop, clop: “Madame, bonsoir!”. Pegou casaco e tal e me encaminhou – clop, clop, clop, clop, clop, clop- até a salinha anexa ao salão principal. Posso ver o menu? Claro! Clop, clop, clop…

Há alguns meses, depois de mergulhar numa pesquisa sobre o assunto, decidi escrever sobre o impacto da música ambiente em restaurantes, na minha coluna da Veja Rio (aqui). Na coluna, discorri sobre as conclusões da pesquisa, mas nunca tinha chegado a uma conclusão sobre mim. Pois bem, no KGB não havia música e, dentre todas as vezes que saí sozinha, nunca me senti tão só. 

E de resto? 

Comecei com os ‘zors d’oeuvres’, o trio de entradinhas-surpresa do chef. Os da semana eram um peixe do dia com coalhada e folhas que faziam um interessante contraste de sabor terroso; um caldo de carne riquíssimo com pimenta Sichuan, toque de funcho, cogumelos e um baconzinho para arredondar; por fim, alhos-poró com tarama (pasta de ovas de peixe salgadas e defumadas) e ovas de truta numa deliciosa marinada de soja. 

É claro que fui de pombo de Mesquer (Vale do Loire). Quem nunca comeu e fez cara de “eca” para a tela, não sabe o que perde. Tinha o cozimento perfeito e um fundo também de soja e vinha com milho doce, abóbora, cebola roxa e azeitonas. Como sobremesa, uma delicada dacquoise com creme de flor de laranjeira, sorvete de pistache, praliné de abóbora e tangerina tatsuma.

A comida do chef Martin Maumet capricha em tudo que gosto: raízes, legumes e ervas frescas. A carta é espetacular e o serviço também foi impecável, mas marcado pelo barulho dos saltos e solas por todo o salão, ampliado pelas superfícies frias e sem toalhas que fazem com que aquilo tudo ecoe e os clientes sussurrem para que o vizinho não participe da conversa. Eu sabia exatamente quando um cliente entrava, quando saía ou quando fazia o caminho até o banheiro, já reconhecia os passos do commis e, lá pela sobremesa, sabia distinguir o loafer da garçonete do da sommelière. 

Na mesma semana fui ao LIQUIDE, inaugurado no ano passado, filho do estrelado restaurante Substance, de Matthias Marc. Como sempre, a primeira a entrar, mas no caminho desde a recepção até a mesa colada na cozinha, fui acompanhada por Sultans of Swing e cheguei ao meu assento bem na passagem para Heart of Glass. 

A casa ainda estava vazia, como de início no outro restaurante, mas fiquei animada ali de frente para o show, vendo os cozinheiros liderados pelo jovem chef Jarvis Scott picarem, escaldarem, assarem e fatiarem todo o menu, sacudindo a cabeça e cantando baixinho, como eu.

Comecei matando a saudade do aipo rábano que quase não se vê no Brasil. É bulbo adorável, mas bem “mastigudo”, de dar câimbra no maxilar. Vinha em mil folhas, com castanhas (estão na época) e coberto com espuma de parmesão. 

Pedi o canard colvert (aquele pato selvagem lindinho, o mais comum, de pescoço verde) que tem a carne mais firme que a das outras espécies, mas muito mais saborosa. Como todo animal de caça, obviamente só pode ser vendido na temporada e vinha, ali, com a coxa empanada e o peito (maturado por uma semana) absolutamente macio. A escolta eram cogumelos cèpes, marmelo e um caldo impecável e denso do próprio pato. Muito bom.

Pedi o INESQUECÍVEL savagnin ouillé do Fumey Chatelain para fazer um ton sur ton com “Yellow Brick Road”, na caixa de som (copos lindos da Riedel, a propósito). Obedeci à música “Don’t stop me now” e segui garrafa abaixo, mas me controlei e parei, apesar dos protestos de “Don’t leave me this way”. 

A conclusão é que música ambiente é algo pessoal e intransferível. Mais fácil escolher um vinho do que uma trilha que agrade a uma mesa de 4. Ambos os bistrôs são filhos mais jovens, baratos e despojados que seus pais estrelados, com comida e serviço de muita qualidade. O problema é que, sem a música, fiquei só comigo… e, né? Como estou velha e ranzinza, foi chato. 

Fica aqui a promessa de voltar acompanhada a um e ao outro. Quem sabe mudo de ideia?

zekitchengalerie.fr/restaurant/kitchen-galerie-bis

www.liquide.paris

pombo e suas lindas cores de Outono, no KGB
dacquoise com creme de flor de laranjeira, sorvete de pistache, praliné de abóbora e tangerina tatsuma
mil folhas de aipo-rábano com castanhas e creme de parmesão
pato selvagem (colvert), do Liquide

Pra quem sabe cair do cavalo – Cavalariça, Comporta

Quando pequena, fiz aula de equitação. Tempos curiosos, aqueles…

Meus pais, orgulhosos, ganhavam elogios ao mostrar a foto da filha lindinha, toda fantasiada com calças de culote, capacete, bota, luva, paletó e chicote de couro. Eu, ganhava os tombos. 

Mabrouk era espetacular e nosso amor foi lindo, enquanto durou. Gostava de alisar sua crina e dos dentões que arreganhava enquanto mordia os torrões de açúcar em minhas mãos. Me sentia invencível naquele trote flutuante ao dar voltas pelo picadeiro enquanto fazia os exercícios de ritmo, respiração e solidez sobre a sela. 

Tudo parecia perfeito, até que o infeliz latido de um cachorro ou a buzina inesperada de um carro faziam o bicho lembrar que era um cavalo de salto e se esquecer de mim. Mabrouk relinchava, sacudindo a cabeça, desviava da rota, partia para o meio do campo num galope enlouquecido e wooooooshhhh, saltava um obstáculo. 

Nas 15 vezes em que algo o assustou, eu caí. Meu orgulho se limitava a tentar despencar um pouco mais adiante, depois do terceiro ou quarto salto, mas não tinha muito jeito. Foi curta a minha carreira no hipismo. Ao menos, acabou antes que Mabrouk me matasse. 

Mesmo coberta de hematomas, não contava nada em casa. Foi tudo bem na aula? Foi.

Vocês podem me achar esquisitinha, mas no dia em que resolveram trocar meu cavalo, parei com o treino. 

Para evitar lembranças masoquistas, evitei cavalariças desde meus 11 anos de idade, até que encontrei as de Comporta. 

O site do hotel em que ficamos trazia algumas comparações para “situar” os clientes: Comporta é como “os Hamptons dos anos 70, St.Barth dos anos 80, José Ignacio dos anos 2000”. Sinceramente, achei a cidade bem mais pé no chão, com mais qualidade e menos afetada que todos os lugares citados. Talvez José Ignacio seja o espírito mais parecido em tamanho, proposta e público. 

Já tinha lido sobre o restaurante situado nas antigas cavalariças da cidade e, se havia algum desejo gastronômico em mim, era o de conhecer aquele lugar. 

O espaço era lindo, claro, com pé direito alto e janelas de madeira colorida. Nos vãos generosos das antigas baias pintadas de branco ficavam as mesas maiores.

Dizem que famoso por lá é o prato de frango, mas como estava entre amigas loucas por vegetais, fizemos um belo desvio nessa direção.

Não sei dizer o que estava melhor: o pão magnífico (tão bom quanto a manteiga curada e o azeite que o acompanhavam); as croquetas de ombro de porco com maionese de mexilhões e semente de mostarda; a abobrinha orgânica sobre queijo de soro de leite com manjericão; a couve flor assada na frigideira com couve sauté e vinagrete de alho-poró; o divino roll de legumes em folha de repolho e hoisin de amêndoas; o tempurá de couve com cebola e hummus de feijão branco ou a cenoura defumada com creme de amêndoas assadas e laranjas sanguíneas. Tudo excelente.

Então, a nota triste:

Ninguém vai lhe avisar, no momento da reserva, que à noite não circulam mais táxis em Comporta (eram quase 23hs quando terminamos o jantar e ficamos três mulheres ligando para a única cooperativa de taxis da cidade, sem nenhum apoio da casa, do lado de fora). Para evitar aborrecimentos, recomendo fortemente arranjar de antemão o transporte da volta. 

Eu devia ter previsto que, numa cavalariça, a história só podia terminar com um tombo. Doeu, como doíam os da infância, mas continuo esquisitinha… e volto.

http://www.cavalarica.com

Como sambar um tango

[Texto feito especialmente para o antigo blog do Luiz Horta, que agora firmou endereço no glupt.com.br]

“Quando as coisas estiverem péssimas, não faça em ritmo de tango; faça em ritmo de samba, que é melhor”. Crescemos com esse mantra familiar, frase preferida de um pai que detestava auto-piedade. Aqui, não se conta desvantagem, não há tragédias, não se valoriza o ruim. Vem a chateação, a gente bate no peito e chuta. Mas… convém não exagerar.

Minha mãe, agora com 85 anos, sempre viajou muitíssimo a trabalho ou lazer, daí o grande abacaxi de ter tido um “AVCzinho”, como diz (sambando).

Há três anos muito limitada e cadeirante, mas com sua habitual vontade de ferro, faz campanha diária por uma viagem ao exterior. Minha irmã, passista de primeira, insistiu que tudo daria certo, claro! Bastava levar duas enfermeiras, a cadeira de rodas, malas extras, remédios, improvisar a fonoaudiologia e fisioterapia obrigatórias, quarto adaptado, além da alimentação especial.

Já que era Natal, rimamos com “o escambau” e juntamos genros, netos, uma sogra, miramos no “exterior” mais próximo e partimos para Buenos Aires. A ideia era ter um hotel que resolvesse metade da aflição e simular férias da sua rotina limitada fazendo tudo igual, só que em espanhol.

Chegamos. Já na recepção, minha mãe diz: ‘que saudade do meu apartamento!’, meus filhos correm para o primeiro cômodo com senha de wi-fi, e as enfermeiras fazem a lista da farmácia. Eu só queria beber.

Se você mora no Instagram, este não é seu post. Lá, ninguém tem piriri, come mal em viagens ou tem mãe nessa situação. Foram 6 dias de reservas e expectativas furadas, num hotel apelidado de “nave-mãe”. Com sorte, escapávamos esporadicamente da órbita, em busca de pequenas alegrias.

Tentei matar saudades da LAB TOSTADORES DE CAFÉ, cafeteria preferida pelo conjunto da obra, mas dei com a cara na porta, fechada para reformas. São eles que torram os grãos de uma outra casa, a FÉLIX FELICIS, em Palermo, dona do melhor flat white de Buenos Aires, dá desconto para quem chega de bicicleta e vende um guanes (tipo de grão) colombiano exclusivo, que provei também no V-60, meu método de extração preferido.

Fugia aqui e ali para garantir suprimentos, nos dias em que a matriarca estava indisposta. Assim descobri o PASTRÓN, pastrami argentino feito com a capa do bife (a ‘tapa de asado’), que fica em salmoura por 30 dias com especiarias e pitada de açúcar e depois é cozido por 6 horas em baixa temperatura, de preferência no forno a lenha. Também provei o excelente REGGIANITO, filhote do parmiggiano reggiano e feito em rodas menores (de 6,8kg), um pouco mais salgado e envelhecido apenas por 6 a 8 meses. Pequenos regalos.

Nada disso funciona sem pães, e alguns dos melhores se acha na SELVAGE, padaria dentro de uma garagem de Palermo. Nas paredes, fotos de Pink Floyd, Kurt Cobain, Foo Fighters e tal. No salão, um entra e sai de gente atrás dos pães de fermentação natural que fizeram a fama da casa, e eu, na fila do pan dulce (panetone) feito com massa madre antiga e passas maceradas no ótimo vermute LA FUERZA, produzido nos Andes. Algo delicioso e original, se tiver sorte de passar pela cidade no Natal.

Outro pequeno prazer foi visitar, no vazio do feriado, o Centro antigo da cidade, acinzentado, silencioso e bonito, de um jeito melancólico. De repente, um oásis: a sorveteria CADORE, única loja aberta. É corredor sóbrio, simples e sem adornos, com seus tambores de metal alinhados, merecido patrimônio cultural da cidade por sua qualidade. Mesmo não sendo fã de doces muito doces, é impossível evitar o sabor icônico feito do mesmo jeito desde 1957. Leite, açúcar e baunilha cozidos por 14 horas fazem a base perfeita do bloco denso de doce de leite gelado. Rimei com uma bola de pistache e fiz uma pequena prece pelo milagre de Natal.

O grupo de onze também foi salvo duas vezes pelo SOTTOVOCE, um italiano gostoso de bairro, nada hipster, que acomoda sem cara feia grupos grandes, onde comi (e repeti) um excelente mellanzane alla parmiggiana.

Não poderíamos passar sem uma ceia, e escolhemos a da nova casa de carnes do Hotel Alvear, com menu em torno do tema – bife ancho, cordeiro, pato – em ponto perfeito. O hotel também acaba de ganhar rooftop simpático, que encontramos fechado duas vezes por conta da chuva, nesses dias de Instagram reverso.

Adorei a CASA CAVIA, linda construção palaciana de 1927, reformada pela KallosTurim, arquitetura e design. Lá dentro, florista, loja de perfumes, livraria de charme e um lindo pátio central, onde faria questão de ficar em dias frescos, mas estava quente como o inferno. A cozinha é despretensiosa (tudo era empanado e bem frito, como minha mãe gosta, fossem molejas, peixes ou polvo) mas é lindo, divertido e funciona naquele todo adorável, com ótimo serviço e boa carta. Entrou no guia 50Best Discovery.

Minha refeição preferida foi no ELENA, novo restaurante do hotel Four Seasons (e presente no Guia Latam50Best). A começar pelo serviço da sommelière Dulce Long, o mais elegante da cidade. Comi salada de abóbora assada com suas sementes e queijo halloumi, deliciosa e bem temperada, seguida de umas costeletas de porco com barbecue, de matar. Tudo perfeitamente executado, que é o que interessa, sem firulas e bem apresentado.

Assim sambamos La Cumparsita, buscando felicidade enquanto tudo dava errado. A viagem de volta foi um inferno com subsolo. Havia uma multidão no aeroporto, filas intermináveis, horas e horas numa cadeira de rodas que tinha um problema no assento, e tudo isso regado pelo habitual medo de avião de minha mãe. Em um dado momento, chegou a ficar lívida e perdeu os sentidos de exaustão. Jurei não repetir.

Já em casa, peguei em suas mãos para ter uma conversa em tom grave:

  • “Mamãe, veja que odisseia terrível e sacrificante. Acho que agora temos certeza de que, infelizmente, não dá mais para viajar de avião”.
    Resignada e estafada, diz:
  • ”Sim, minha filha…. Agora, só para Lisboa”.

Uma tarde no vale – Storm King Art Center e Roundhouse, Vale do Rio Hudson, Nova York

The Arch, 1975 – Alexander Calder

Do mesmo jeito que esperava a estrela cadente nas noites da infância, deitada numa toalha no jardim, agora catava um urso.

Manhattan ia saindo de mim, aos poucos. Passei pelos viadutos periféricos, deixei um engarrafamento na ponte George Washington, depois umas indústrias do outro lado do rio, pequenas casas; largava coisas cada vez menores até que surgiu aquilo que os nativos lenape chamavam de weehawken (rochas que parecem fileiras de árvores), as Palisades. Era o início do meu sonho de urso, que brotou na floresta que agora margeava a estrada.

Uma semana antes, eu já vibrava com a dupla estampada no aplicativo do tempo: o desenho do solzinho amarelo, sem nuvens, ao lado de “20 graus”.

Foi Andrea que veio com a ideia do Storm King Art Center, um museu de esculturas a céu aberto no meio do vale do rio Hudson. Para se ter uma ideia da escala, Inhotim tem 390 hectares entre área de visitação e reserva natural. Aqui, ao todo, são 500. É gigantesco.

Já tinha cheiro de artistas, aquela área. Na metade do século 19, o rio era importante rota comercial e de turismo, viabilizando o crescimento de Nova York, ao sul. O ponto era perfeito para pintores que retratavam o vai e vem dos barcos e as dramáticas nuvens que se formavam constantemente em torno da montanha Storm King, ao fundo.

Em 1958, Ralph Ogden arrematou 200 hectares de terra na região e comprou as primeiras esculturas nos anos 60, fundando o museu. A coleção que se restringia à área em torno da sede acabou crescendo e tomando cada canto da propriedade, ganhou merecida importância e, algum tempo depois, a cereja do bolo: uma gentil doação de mais 300 hectares para que a paisagem seguisse intocada.  

Nem dá para explicar a escala das coisas. “O arco” de Calder, com seus 15 metros de altura, nos recebeu na entrada como um imenso cão de guarda que garante a humildade de quem visita o parque.

Vi muitas famílias, gente de toda idade, cada uma a seu passo, e descobri que tenho particular atração por espelhos, desde que não me reflitam. “Fallen Sky”, de Sarah Sze (obra que enfrentou o desafio de uma montagem no meio da pandemia) e “Mirror Fence”, de Alyson Schotz, foram duas de minhas obras preferidas. No outro lado do espectro, a linda escultura em cedro de Ursula von Rydingsvrd, lembrou as escavações de minha mãe.

Dezenas de peças me encantaram por motivos diferentes, fosse pelo movimento que o vento emprestava ao objeto, como no giratório de George Rickey; pela cor vermelha das obras de Alexander Liberman, que rasgavam a paisagem pastoril; ou pela aparente impossibilidade física de uma peça como “Suspended”, de Menashe Kadishman, que parecia querer desabar sobre os passantes.

A bolha no pé, fruto de uma sandália errada (por que diabos não pus meu tênis?) me lembrou a fome, esquecida com tanta boniteza. Era hora de partir para Beacon.

Um programa nasceu para o outro, tanto porque rima em beleza quanto em praticidade. A cidadezinha, como tantas que ficam a pouco mais de uma hora de Nova York, é daquelas lindinhas, com a vida que gira em torno da rua principal que, apesar da escala mínima, tem antiquários, joalherias, roupas de grife e (impossível não notar) a presença imponente das corredeiras que atravessam a pequena ponte. E ali, num dos pontos mais lindos da cidade, se pode almoçar no Roundhouse.

Encontramos um pátio animadíssimo que não aceita reservas e só existe quando o tempo permite, mas garanto que é grande o suficiente para não deixar ninguém esperando muito tempo, num dia de sol.

Fazendas, destilarias e vinícolas próximas abastecem a casa de comida “americana moderna”, com muitas saladas, pequenos pratos e massas, todos com ingredientes da estação. Há algo de terapêutico no barulho das corredeiras. Quem discorda pode escolher o salão interno, projetado sobre o rio, com mais vista e menos som. Lá dentro, as reservas nos dias em que o pátio não abre, não só são desejáveis como recomendadas. Brindamos a alegria de um dia perfeito com um tocai friulano simples, fresco e correto, de uma vinícola a 40 minutos dali.

Lembrei da estrela cadente dos jardins da infância que nunca aparecia, mas rendia assunto. Cada um de nós, ali na grama, passou a vida fingindo que o importante era ela, mas assim como o urso (que também não vi), era só desculpa para voltar.

para a coleção completa e mais informações: stormking.org

roundhousebeacon.com

“Mirror Fence”- Alyson Shotz
Fayette: For Charles and Medgar Evers – Charles Ginnever. Todo o passeio, no campo ou floresta.
The Roundhouse, um restaurante adorável.
A vista do restaurante

O castelo da minha infância – Máximo Bistrot, Cidade do México

A fazenda onde eu enchia linguiça e uma janela, em 2018.

No tempo em que eu enchia linguiça, eram dois cubinhos de carne, um de gordura e um tanto de temperos, assim, nessa ordem. Quem mandava eu me ocupar era Dona Laura, nenhum dente na boca. Eu? Fazia aquilo por horas, escorregando as mãos pela tripa sebosa. 

Naquela época, a luz da fazenda ainda era a do gerador. Às vezes, tremelicava. Ficava eu com o dedo parado, sem escorregar nada, esperando firmar. Prendia a respiração. Voltava a luz, eu enchia linguiça. 

Não ligava para a falta de dentes e nem sabia o que era tripa. Não conhecia colesterol, vegano, ensacadeira, abate sem dor. Pegava numa bacia os dois cubinhos de carne, na outra um tanto de gordura, e num prato de florezinhas catava os temperos, assim, nessa ordem. Escorregava compriiiiido as mãos pela tripa sebosa até o nó. 

O mundo lá fora já era chato, e eu nem sabia.

Antes daquilo, já havia o torresmo, o pão frito, a nata frita, o ovo frito. Lá em casa, tudo era frito. Brincou no jardim? Lanchinho. Quer ver desenho animado? Brigadeiro. 

Vivia num castelo feliz, sentada em poltronas macias de gordura, e recostando a cabeça em travesseiros de açúcar. Ali, ninguém jamais comera uma migalha daquele troço chamado culpa. Aliás, minha mãe ainda mora por lá, e não há médico que a arranque de seu trono. 

Não sei bem como aconteceu…

Um dia, me peguei comendo peixes, adorando azeite, coisas cruas e cheias de fibra, passei a me entupir de verduras e legumes, lamber os beiços para pratos veganos e achar que coisas no vapor me olhavam sedutoramente. Mas parte de mim, confesso, ainda vive lá.

Foi justamente esse quarto de alma que pediu uma sopa de cebola cozida em seu soro, gratinada com queijo comté e ‘cruffin’ – um cruzamento de croissant com muffin – num restaurante na Cidade do México: o Máximo Bistrot. 

Minha porção saudosista tratou de convencer o resto de que aquilo tudo não deveria ser tão literalmente gordo. A quem eu queria enganar? Manteiga é uma droga, um vício, um redemoinho que força a passagem do corpo para um outro plano. Meus olhos se esbugalham, a cabeça voa e ouço uma voz: Cristiana, não vá para a luz!… 

Quando os outros três quartos de alma ordenaram a auto-flagelação e a negação do demônio, pedi minha redenção na forma de patas de caranguejo moro, uma das estrelas do Golfo do México, de carne muito saborosa. O garçom confirmou o que eu já sabia: “sí, cangrejo à la mantequilla”. Olhei para meu marido como quem teme o julgamento. Será que ele ouviu “mantequilla”? Naahh!…

A sobremesa foi o ponto alto, com um sorvete de queijo de cabra Chaurand com massa phyllo, um creme de goiaba não muito doce, uns pistaches aqui e ali e uma bela regada de azeite por cima. Maravilhosa. 

Pelo que li, a casa mudou de lugar, no meio da pandemia. Não sei como era o ‘antes’, mas agora se instalou num galpão onde funcionava uma oficina de automóveis, de pé direito altíssimo, árvores, móveis claros e paredes forradas à moda antiga, com cal e nopal (cacto) fermentado.

A proposta da casa, nas palavras do próprio chef, é de uma cozinha franco-mexicana. Eu diria que bem mais francesa que mexicana, para alinhar as expectativas, com um toque de cozinha americana contemporânea. Afinal, o chef morou e trabalhou muitos anos nos EUA. 

Confesso que, a meio caminho do segundo prato, aquele flashback tão “rico” me fez invejar a salada da mesa ao lado. Ainda assim, a experiência foi muito agradável. 

Lembrei de minha mãe dizer que era comum, em sua época, colocarem “uma colherzinha assim de vinho do Porto” na mamadeira, para acalmar as crianças. Não que tenha feito conosco. Olhei para aquele castelo de minha infância, pedi uma dose de tequila e pensei: será que fez? Nahhhhh!

Ambiente do Máximo Bistrô
Dos melhores pães que provei em restaurantes, na Cidade
Um eufemismo chamado sopa de cebola
Patas de caranguejo moro e um “pequeno toque” de manteiga
Delicioso sorvete de queijo de cabra chaurand, creme de goiaba e massa phyllo
A carta de vinhos era excelente, mas naquele dia fui de drinks. Aqui, a tequila Jose Cuervo Reserva de La Familia Extra Añejo, culpa da minha mãe.

www.maximobistrot.com.mx

As mães de Tenochtitlán – Panaderia Rosetta, Cidade do México

Ensaiava a foto dessa concha – um dos pães mais conhecidos do país – e lembrava de minha primeira vez aqui, na Cidade do México.

Sentada, torta, com o olhar pregado no visor da câmera, tentava firmar o foco no vaso de flores sobre a mesa de um restaurante no Centro Histórico. Não conseguia. Minha cadeira parecia exageradamente bamba e a tarefa, impossível.

Um tilintar crescente, como um trem de cristal correndo sobre os trilhos, começou a desviar minha atenção. A mesa sobre a qual apoiava meu cotovelo também decidira bambear. Fiquei tonta, muito tonta, e despreguei o olhar teimoso do visor. O salão repleto, havia poucos segundos, agora parecia de cidade fantasma. A cena não fazia sentido e eu “ouvia” tudo em câmera lenta: “Señora, hay que salir ahora mismo!!!”.

Reagi ao puxão no braço e não à premência das palavras que ainda rodopiavam na minha cabeça confusa, enquanto as prateleiras em vidro, de piso a teto, pareciam derreter. Finalmente entendi que as garrafas que batiam grogues, umas nas outras, eram o tal do trem que me fizera acordar.

O terremoto de 6,6 na escala Richter, com epicentro em uma cidade vizinha, se fez notar, e muito, na capital.

Não sabia que a terra não tremia. O chão virara uma espécie de pêndulo e eu, uma surfista que tentava se equilibrar naquela prancha, enquanto árvores, edifícios e postes bailavam. Fomos orientados a sair calmamente do restaurante até estacionar sob um vão, dito seguro, do prédio. Ficamos todos ali: cozinheiros, garçons e clientes, com os olhos grudados no teto que rebatia a nossa impotência.

Foram 5 longos minutos que o México me deu, naquele maio de 2014.

Pensava nos habitantes da antiga Tenochtitlán, capital do Império Asteca e na força da cidade que se apresentava a mim. Pensava nas mães segurando os filhos pelas têmporas, oferecendo-lhes aos céus, gesto que garantia, na cultura de então, que os tremores não os levassem consigo.

Espero que acreditem que os dias que se seguiram me fizeram sublimar o medo. Me encantei pela gente e pela cultura, e a Cidade do México virou uma das poucas no Mundo para as quais tinha vontade de voltar. Acontece que, em 2021, os tempos, vírus e prioridades são outros.

Há dois anos, minha filha decidiu cursar o ensino médio nos Estados Unidos. Veio a peste e acabou assistindo às aulas por um ano, online, debaixo da minha asa. Chegou a hora de partir.

Para que eu possa acompanhá-la, a quarentena obrigatória se dá em meia dúzia de países permitidos. Um deles é o México e cá estou, em outra fase, a de um terremoto interno.

Quero que a filha esteja preparada para a vida, mas em tempos de Covid, como assim, vamos nos separar? Me vi como as mães de Tenochtitlán, que temiam que o chão se rachasse, ela lá e eu cá.

Viajei naquela concha.

No período pré-hispânico não existia o trigo, claro. Os pães eram feitos de farinhas de milho ou amaranto socadas com mel. Só nos séculos 17 e 18, com as técnicas de panificação francesas e italianas, o trigo e o açúcar entraram na história e chegamos à profusão atual de ‘pandulces’ mexicanos. Assim como tantos pães pelo Mundo, a “concha”, uma adaptação do brioche francês, reproduz um elemento da Natureza. Eu só enxergava ali um terremoto.

Como quem tenta domar o indomável, engoli aquele tremor com baunilha, fofo como os pães doces da minha infância. Por alguns instantes, a ansiedade e a antecipação da despedida se derreteram e resolvi que tudo acabaria bem.

A verdade é que a vida só precisa de um tanto de açúcar.

A varanda do Rosetta, disputadíssima em tempos de Covid. Durante a semana, o negócio é chegar antes das 8 e, aos fins de semana, antes das 9

A foto que tirei ao fim do terremoto de 2014, com meu telefone. As pessoas ainda confusas, pela rua. Notem que a luminária de 200kg do poste, que deveria estar perpendicular ao prédio, ainda balançava como uma pluma

Fila de espera, no melhor do charme mexicano.

O cardápio tem pães salgados, doces, sanduíches, berlinesas, scones, galettes, panquecas e o diabo, além de um bom café.

PANADERIA ROSETTA

@panaderiarosetta (instagram)

Tô com cara de crítica?

O espírito (nada crítico) desse blog. Único texto antigo do novo espaço, porque o princípio continua o mesmo (escrevi em 2013).

“Sou sempre crítica em relação a qualquer crítica. Opiniões são de cunho pessoal e respeitamos aquelas que vêm de pessoas que admiramos. No mais, viva as diferenças!

Na análise de um restaurante, assim como em tudo na vida, não conseguimos nos despir das paixões, das influências, do momento, do “lastro” das grandes marcas, do ambiente, da companhia e tantos outros fatores que podem subsidiar críticas injustas.

A que serve alguém achar que sua opinião é realmente relevante? A nós mesmos. Por isso nunca me levei muito a sério. Minha busca é crescer, dentro daquilo que mirei para mim.

Como dona de restaurantes sou sujeita a críticas, e tenho muito orgulho da coragem que requer essa exposição, dado o interesse desproporcional em relação à gastronomia no mundo em que vivemos, que se tornou uma brincadeira clubista, modista e algo muito maior do que fazer um bom produto e prestar um bom serviço. Como conheço o outro lado da moeda, tenho muito cuidado e julgo uma imensa responsabilidade avaliar o trabalho de terceiros.

O preocupante é a obediência cega às notas, listas e rankings, mas isso fala da maturidade de cada um e do ambiente cultural em que vivemos. O que me incomoda é o olhar de rebanho sobre os críticos, porque ainda que digamos que não, buscamos o consenso, conforto e “aceitação” na opinião de terceiros, a despeito do nosso gosto pessoal.

Minha opinião vale algo? Muito provavelmente não, mas é uma opinião de quem ama o que faz, e o faz há muito tempo. Essa é a filosofia que adoto por trás de qualquer “degustação”, seja de comida, bebida ou música.

Bom é tudo aquilo que me arrebata, e aí posso falar de uma infinidade de restaurantes “menores” ou “cheios de defeitos”, que me encantaram por estar com a companhia certa, ou por virem na hora certa. São estes, principalmente, os que escolho para este blog.

A quem serve o consenso dos críticos? A ninguém. Por isso faça as suas visitas e seus rankings, e parabéns pela opinião divergente. Não existe melhor do mundo, existe, sim, o melhor DO SEU MUNDO”.

[os textos dos últimos 12 anos estão lá, ainda, no crisbeltrao.blogspot.com}