“Como não me apaixonar por um lugar chamado Manteigas?”
Disse a frase logo que pus os pés na pequena vila portuguesa, na Serra da Estrela, sob a premissa falsa de que se trataria de um batismo vindo da comida. Não foi.
Ali, se produzia pequenas mantas, mantecas. Daí a virar Manteigas, foi um pulo.
Passeando de jipe pela Serra, cruzei com um pastor adolescente, muito entediado, é claro. Afinal, o pastoreio foi atividade que perdeu muito interesse ao longo dos anos. Que diabos estou fazendo aqui no alto, cuidando de um bando de animais, sem folgas ou sinal de telefone?
No passado, o pastoreio e o esforço hercúleo de criar aqueles socalcos com a enxada para viabilizar a agricultura nas montanhas era a única forma de pôr pão na boca das famílias que moravam no alto da Serra da Estrela, já que as terras baixas eram dos ricos. Havia opção? Não. Hoje, poucos parecem querer abraçar essa vida.
Amigas daquela gente, mesmo, eram as ovelhas bordaleiras que transformavam os pastos cheios de ervas secas em leite, carne, lã e adubo. Para proteger do frio, chuva, neve ou calor enquanto acompanhavam as bichinhas, lá estava a manta de BUREL pendurada no ombro dos pastores, um tecido impermeável, muito resistente e barato, usado desde o século XI.
O antigo burel, de preto, branco e bege – as cores da lã das ovelhas – hoje tem padrões, formatos e cores lindos
Para quem não sabe, escolher e fiar a lã, colocar os fios um a um no tear, juntar a teia e a trama para depois prensar o tecido é a atividade artesanal mais antiga de Portugal.
A crise de 2008 levou ao fechamento sucessivo de quase todos os lanifícios da região, mas Isabel Costa e João Tomás viram ali uma oportunidade. O casal comprou a antiga fábrica Império, já em processo de insolvência, e fez dela a Burel Factory que preservou a história, modernizou os processos, criou estampas, objetos de decoração e hoje exporta para vários países lindas peças em burel feitas com preceitos sustentáveis.
Aí vem a grande confusão: agendamos uma visita à Burel Factory no hotel e acabamos na Ecolã, uma fábrica super colada, ao lado. Na entrada, informamos que a visita tinha sido agendada e ninguém nos disse que estávamos no local errado. Tudo foi muito bonito e a visita, muito agradável, mas… não é? Quem for na certa, me conte.
Além do lanifício, a família é dona dos hotéis Casa das Penhas Douradas e da Casa de São Lourenço, onde me hospedei. E foi lá, da varanda do meu quarto e aquecida pela minha manta quentinha de burel, que avistei o cobertor denso de nuvens deitado sobre a pequena Vila de Manteigas.
O Salão da Casa de São Lourenço
Quem me conhece sabe que não ligo para SPAs ou frescuras; meu maior interesse é e, sempre será, comida boa e com identidade local, de preferência com boa carta de vinhos. Tinha tudo isso, ali. Uma cozinha de montanha com muita qualidade e pouca invencionice (graças a Deus!).
Do café da manhã ao jantar, tudo no restaurante da Casa de São Lourenço, com vista espetacular debruçada sobre a Manteigas, foi muito bom: houve uma profusão de bolos, pão de centeio, ótimos iogurtes do leite denso dali, baldes de queijo Serra da Estrela e outros tantos de cabra e ovelha; também comi uma salada de beterrabas com aspargos frescos, pinhões e mentrasto que ficou na memória; uma truta de Manteigas que vinha crocante e empanada com escabeche, cenourinhas avinagradas e a típica broa de milho; um caldo aveludado de castanhas com fio de vinho do Porto que estava tão delicioso que fiz questão de repetir; e um cabrito de Campo Romão (então!…) que vinha com arroz pingado de assadeira, caldo defumado e o tradicional esparregado. Todo o cardápio muda de acordo com as estações, como deve ser, e o chefe de sala e sommelier José Reis soube me orientar nas escolhas dos vinhos locais que não conhecia.
Cabrito de Campo Romão com arroz pingado de assadeira, caldo defumado e o tradicional esparregado
Não soube escolher entre as delícias de Manteigas e a beleza das “mantecas”. Só sei que o programa casado, sem dúvida, vale a viagem.
Fui cutucada para fora da cama por um fuso trocado. Olhei o relógio sem qualquer preguiça e caminhei, pantufa e robe do hotel, até a sacada ainda molhada pela tempestade do dia anterior. Esperava o frio muito frio do Norte, mas senti gostosos 13 graus enquanto a (ainda) noite das 7:15hs se transformava em dia, pontualmente às 7:29 da manhã, com um coro de gaivotas anunciando a transição.
A vista é “brutal!”, me disseram. E era.
O Porto é mesmo lindo.
Não foi uma ou duas vezes que ouvi de amigos que moram por lá: “mas a Cristiana nunca vem aqui?”. Burramente, brasileiros têm a memória de distâncias muito grandes entre Norte e Centro Sul, mas são três horas que voam, especialmente para quem lê ou trabalha, no trem veloz que parte de Lisboa. Com wifi decente, carro restaurante e vista, me perguntava por que nunca tinha ido antes.
Mercado do Bolhão
Aliás, faria a viagem de novo e com gosto só para caminhar por entre as barracas e placas ‘mui ordenadas’ do MERCADO DO BOLHÃO, que funciona na Baixa desde 1839, quando ainda era um mercado de rua aberto. Naquele tempo, era zona enlameada atravessada por um regato que, bem ali, teimava em formar um…bolhão de água (eureca!). Desde 1924, com a Câmara Municipal tentando organizar a bagunça, é estrutura fechada, pavimentada, limpa e bem iluminada, com cobertura das galerias e tal.
“Maria do Álvaro”, “Temos Lata”, “As Irmãs Araújo”, “Inês das Plantas”, “Salsicharia Lindinha”, “Rosinha Florista”… As barracas são poesia auto-explicativa e conseguiram arrancar um sorriso a cada parada. Além da venda de grãos, frutas, legumes, carnes e peixes, embutidos, flores ou conservas, come-se muito bem por ali, em mesinhas espalhadas pelas laterais com direito a cerveja, copo de vinho e o melhor ponto final que conheço: a doçaria portuguesa.
Salão do Euskalduna
Quando marquei a viagem ao Porto, assim meio de surpresa, recorri aos amigos da área. Três deles me indicaram o EUSKALDUNA como melhor restaurante da cidade que, aliás, acaba de ganhar sua primeira estrela Michelin. A casa é feita de um balcão de 12 lugares e duas mesas de 4. Tudo muito bom, mas convém estar preparado para as quase 4 horas do menu de 10 passos. Dentre todos, uma lula gigante dos Açores que ganhou meu coração. Na base, os tentáculos em creme feito com arroz koji, echalotas e malagueta; o corpo vem no centro com uma espécie de beurre blanc feito com vermute no lugar do vinho branco e, por fim, um pó de tinta de choco e a raspa de um cítrico japonês. Recomendo fortemente a harmonização feita de vinhos menos tradicionais de pequenos produtores e gostei particularmente do espumante rosé de pinot noir da Quinta do Rol, 7 anos sobre as borras. Perlage delicinha. Essa vinícola de Lourinhã, aliás, é famosa por suas aguardentes de fazer inveja a qualquer Cognac (mas esse é outro texto).
Lula e Nage era o nome do prato perfeito
Salão do Almeja
Perto do Bolhão e para quem quer uma ótima cozinha à la carte, recomendo fortemente o ALMEJA (dica de Miguel Pires), estacionado naquele ponto perfeito entre o gourmet e o gostoso, em geral tidos como rivais. Não são e ali se pode provar. Tudo bem feito, elegante e bem montado, mas provoca algo mundano de “quero mais”.
Cabeça de Xara muito delicada – queria comer três
Todas as salas são acolhedoras de um jeito simples e retrô, mas fiquei no salão mais claro, ao fundo, que prometi revisitar no Verão. O menu e carta de vinhos são curtos, mas precisos. Tudo que provei (6 pratos porque, claro, ataquei o do vizinho…) estava delicioso. Destaco a tosta de cabeça de xara, escabeche e maçãs, linda e equilibrada. Em seguida, um imperdível arroz de cabrito e miúdos, cheio de colágeno, daqueles feitos com um caldo impecável, de estalar a língua. Para terminar, o bolo de tangerina com creme de limão, granizado de kalamansi (um cítrico do sudeste asiático) e soro de leite. Leve e ótimo, generoso, divertido. Uma pausa dramática para dizer que há outros dois menus de almoço, sendo que um deles custa 9,90 euros – espiei e parecia delicioso. O serviço de sala foi impecável (mérito de José Pedro): eficiente, discreto, mas também muito bem-humorado. Aliás, toda a gente do Porto é imensamente gentil.
Arroz de miúdos e cabrito – uma delícia
E assim terminou mais um dia feito de Bolhão, comilança e Beltrão com a (já) saudade embarcando comigo, na estação. Rimei.
O que dizer de Nina Gruntkowski, uma alemã que podia ser “só linda”, mas fala várias línguas, inclusive japonês e o português ‘Brasileiro’, estudou geografia e etnologia, foi radialista, morou na Namíbia, luta capoeira e, de quebra, decidiu criar uma das marcas de chá mais emblemáticas de Portugal?
Olhando para seus 12 mil pés de chá, sob a chuva, comenta: “Hoje, olhando para isso tudo, tenho uma grande alegria, mas foi uma luta grande, lembro que esse terreno era uma selva”, e então aponta para os corredores de plantas com alturas crescentes como quem lembra das dificuldades de se criar vários filhos: “Essa tem 1, aquela 2, 3 anos… e aquela ali é fileira mais antiga, com 6 anos de idade”.
Não havia referência alguma do que seria plantar ali, nem de onde conseguir as mudas ou qual seria o manejo ideal. Nada. A produção de chá em território português só existia nos Açores, e apesar da cultura no Continente ter acontecido aqui e ali, especialmente no Minho e no Alentejo, ninguém conseguiu ter escala suficiente para fazer daquilo um negócio. Bem, isso até Nina querer que fosse.
Cultivar chás, sobretudo de forma orgânica, não é decisão fácil até porque a primeira colheita só acontece 5 anos depois. Ainda assim, decidiu ir adiante e começar o cultivo numa vinha abandonada, preparando o terreno todo a mão para evitar o impacto de equipamentos pesados. Começou em 2014 e só em 2019 teve a primeira planta com maturidade para a produção.
Brindamos aos anos difíceis com uma Kombu Green, kombucha feita de chá verde em parceria com a HomeLab, de Bel Augusta, co-anfitriã do dia. Realmente deliciosa e fresca, assim como a minha preferida, feita de rosas cultivadas ali mesmo.
Faltava pouco para o Natal e Nina falava dos próximos passos: em uma semana faria a poda das plantas e depois trataria de esperar ansiosa pela Primavera e os rebentos da primeira colheita do ano. Então sorri, se levanta e começa a preparar cadas um de seus maravilhosos chás.
KINTSUGI CHÁ
Kintsugi, para quem não sabe, é a arte japonesa de consertar uma porcelana quebrada emendando as partes com ouro, prata ou platina, realçando as rachaduras como parte da “história” do objeto e não como algo a se disfarçar.
Nina contou que durante uma de suas viagens, uma valiosa panela de ferro fundido para a produção de chás oferecida pela família Morimoto – seus parceiros japoneses em alguns produtos – se partiu. Conseguiram soldá-la e, a partir de então, o chá da primeira colheita é feito sempre ali, como um símbolo de renovação.
O Kintsugi Chá é feito das folhas da pré-colheita, as primeiras folhinhas que nascem depois da planta adormecer no Inverno, apanhadas a mão. O chá mais valioso do ano só sai em quantidades bem limitadas e tem mais doçura, complexidade e frescor.
O bule levou mais folhas que o habitual para dar conta de 3 ou mais infusões, como no método oriental. Como convém, as xícaras são menores para se provar cada uma das etapas: as duas primeiras ficaramem infusão por 3 minutos a 80 graus e a terceira por 4 minutos, a 85 graus.
Pareciam 3 chás absolutamente diferentes. A bebida evoluiu de uma versão mais tímida para outra mais complexa e elegante, à medida que as folhas se desenrolam no bule e liberam mais e mais aromas com a reidratação. Aguenta até 5 infusões e tem notas doces, frescas e cheias de “umami”.
FLORCHÁ
Um exemplo de sustentabilidade, aproveitamento total da planta e, ainda, a bebida mais linda de se servir.
A flor da camellia sinensis não tem cafeína, como a planta. Quer atrair e não afastar as abelhas, para que possa se propagar, claro. A infusão da flor desidratada tem um sabor sério, com notas de vagem e pólen e foi preparada a 90 graus por tempo que esqueci de registrar porque estava aparvalhada com a beleza das flores.
SENCHÁ ROSA
Isabel Teixeira cultiva flores comestíveis em Arnoia de Basto (perto de Amarante) e decidiu plantar uma variedade muito perfumada e rica em óleos essenciais dentro da propriedade da Camélia, poeticamente instaladas à sombra de um kiwizeiro.
As flores inteiras são secas ao ar livre e usadas nesse blend de chá verde japonês da família Morimoto com as pétalas de rosa da propriedade e um toque de cidreira. Um chá delicadíssimo. Como a composição libera rápido os aromas foi preparado a 70 graus, por 1 minuto e meio.
PIPACHÁ
A ideia nasceu de uma viagem feita com o marido – Dirk Niepoort é um dos produtores de vinho mais respeitados e inovadores da Europa – à Coreia do Sul, em que visitaram um produtor de oolong que estagiava seus chás em madeira de cedro.
Nascia ali a ideia de fazer algo ainda mais original: aproveitar afinar um oolong orgânico em barricas usadas para se fazer vinho do Porto. Estive na cave da Niepoort, no dia seguinte, onde vi as gavetas de secagem, as barricas cobertas onde o chá descansava e pegava notas deliciosas de fruta e chocolate. Um produto absolutamente incrível, não bastase o oolong ser um dos meus estilos preferidos.
O chá foi servido com uma espécie de pastel doce de feijão, delicadíssimo e (nada a ver com isso) descobri que chás escuros combinam muito bem com queijos.
Aliás e por fim…
Enquanto caminhávamos em direção ao recém-inaugurado salão de degustações no interior da casa, Nina decide parar e arrastar uma mesa pesadíssima – onde normalmente as provas são feitas em dias de sol – para protegê-la da chuva insistente. Antes daquilo, já que nosso trem até o Porto teve a partida atrasada por duas horas e meia por conta das chuvas, Nina decidiu fazer a gentileza de nos buscar na estação, onde comecei meu aprendizado sobre os chas Camélia com ela no volante. Também foi Nina que fez o tour conosco pela plantação, nos serviu kombucha, lavou os copos, esquentou a água, aqueceu uma refeição deliciosa (porque poderíamos estar com fome depois do atraso), montou a mesa, serviu os chás e os pastéis de feijão que o acompanharam.
Nina tem uma grande equipe, claro, mas percebe-se o quanto é incansável, simples e “mão na massa”, em cada um de seus pequenos gestos, sempre acompanhados de um sorriso encantador.
Ninguém chega até por acaso.
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[os jardins do Castelo de Fontainebleau, grande alegria na pequena cidade]
Gostei dos pães da Boulangerie Dardonville e achei, com facilidade, a insubstituível manteiga Bordier. Havia boas loja de vinhos convencionais e outra ótima de vinhos naturais, adotei uma cafeteria com bons grãos etíopes e um outro canto, com chás. Há bistrôs corretos, queijos espetaculares, excelente confeitaria e, para a hora da saudade, boas pizzas e um bom japonês.
De resto, boas livrarias, umas galerias de arte, um teatro. Tudo numa cidade do tamanho de Ipanema. É claro. Há o onipresente “peru no pires” em forma de castelo, principal ímã turístico da cidade.
Passei bons dias em Fontainebleau, cidade em que todos vão aos fins de semana para Paris, inclusive meu filho, que agora estuda por lá.
Paris perde quase 11.000 habitantes por ano para cidades periféricas. Não é má solução, em termos de custo de vida. Casais jovens não acham mais imóveis para alugar na capital (viraram Air BnB) e moram mais tempo com os pais, antes de tomarem a decisão de viver pará lá e para cá, num trem.
As pequenas cidades se transformam, lentamente, e o adeus aos grandes centros me parece permanente.
Deixo aqui um pequeno guia cheio de afeto, (qualquer lugar onde o filho esteja é o melhor do mundo), para aqueles de passagem.
RESTAURANTES
L’AXEL – Apesar do tamanho de Fontainebleau, coube uma estrela Michelin da cidade. Num pequeno salão intimista e agradável, Kunihisa Goto serve ostras da bacia de Marennes Oléron com emulsao de frutas exóticas, mexilhões de Bouchot do Mont St Michel com curry feito de feijão branco (coco de Paimpol), uma deliciosa vichyssoise de bacalhau e um bom pombo com beterrabas, figos da época, vinagrete de framboesa e cogumelos chanterelles. A carta e o serviço de vinhos foram excelentes.
GINA – o restaurante italiano, recém-inaugurado (setembro de 22) fica no Hotel La Demeure du Parc, onde tive a sorte de me hospedar (ótimos quartos e serviço). O salão é talvez um dos ambientes mais agradáveis e o menu italiano tem alguns itens cenográficos como uma porchetta imensa, costeleta à milanesa gigante e tal, que causam impacto no serviço feito pela equipe de salão. Gostei particularmente de um menu degustação em torno de frutos do mar. O serviço é simpático e o menu de almoço, apesar de enxuto, tem clássicos eficientes. A casa tem ótimos drinks, mas a carta de vinhos tem rótulos e regiões mais comerciais e com margens “de hotel”.
FUUMI – Tive vontade de voltar. Além dos peixes mais frescos da cidade e um arroz de alho assado que comi compulsivamente, comida japonesa quente de muita qualidade brota do balcão do chef Kenta Iyori, que se ocupa da chapa. Do fogão, um espetacular chawanmushi de bonito e shiitake com alho poró, caranguejo desfiado e camarões de Madagascar. Cobicei ramens vizinhos… Ótimo junmai dai-ginjo Sho Chiku Bai (Shirakabegura) da região de Hyogo, na Ilha de Honshu. O restaurante foi criado por Kunihisa Goto, o chef do vizinho L’Axel, a estrela Michelin da cidade.
LA PETITE ARDOISE – um verdadeiro bistrô, para momentos de comida clássica com foco na procedência dos ingredientes, como os escargots de Pampfou, ovos da Fazenda Laveau 77, coisa e tal. O foco é bem local e, até por isso tem queijos, muitos queijos, numa rua que apelidamos de “A Dias Ferreira” de Fontainebleau.
ANTICA TRATTORIA – um dos restaurateurs mais bem sucedidos da cidade (Enrico Einaudi) estudou no Insead, uma das melhores escolas de negócios do Mundo em torno da qual a cidade também orbita (e meu filho estuda, pausa para uma propaganda nada subliminar). Largou o trabalho de controladoria na cidade grande e decidiu abrir vários restaurantes por ali. De sua Trattoria brotam imensas filas em torno de boas massas, pizzas e um serviço eficiente e simpático.
LE FRANKLIN – não esperava muito da casa com jeito de bar na esquina noturna mais animada da cidade, mas a taberna com comida da região de Aveyron, no sul da França, estava bem gostosa, dentro de um espírito bem carnívoro e de embutidos e gordices como aligot, foie gras e tal. Pedi uma salada para disfarçar a gula, e estava boa.
LE PATTON – gostei especialmente da construção, uma mansão do século XIX que conta com uma varanda coberta muito agradável para almoço ou jantar, com a vista do jardim nos fundos. A ideia, desse restaurante que já tem 12 anos de idade é guardar o espírito da casa que já está na família há 4 gerações. O menu do dia foi boa opção e tinha boudin noir, que não costumo recusar. Tem um jeito (no almoço) de business account.
LE SOMMELIER DU CHÂTEAU – o foco fica na varanda agradável e seus vinhos, que podem ser acompanhados de tapas e outros. Lá dentro, a cozinha é criativa, com ingredientes mais leves que muitos vizinhos (carpaccio de vieiras com maracujá, baunilha e limão ou aspagos grelhados com bottarga e pesto de ail des ours, o alho-selvagem), mas um pouco demorada.
BISTROT DES AMIS – do mesmo dono da Antica Trattoria, o lugar tem a vantagem de estar aberto em dias e horários ingratos e isso (acreditem) vem bem a calhar para um passante. Comi bons ceviches que, pela tradição da região e estranhamento dos brasileiros, sempre levam muitas frutas e flores. Achei algo que adoro: a muxama de atum (fatias finas de atum curadas, como um presunto) que ali vinha com amêndoas, uma das especialidades da casa.
PADARIAS E CONFEITARIAS
BOULANGERIE DARDONVILLE – Era dela a cesta de pães servida no meu hotel e também os reencontrei em alguns dos melhores restaurantes da cidade. Provei de vários grãos, tamanhos, preparações, tanto doces quanto salgadas, com ótima qualidade.
SUZY ET ARLETTE – Descobri que a padaria ganhou o concurso da região do Seine et Marne na categoria pain au chocolat (para quê, meu bom Deus?), mas também adorei outros tantos itens de confeitaria, para a infelicidade dos meus quadris. Tudo delicioso, além do atendimento alegre e divertido.
L’A PÂTISSERIE – KG – sem dúvida, a melhor confeitaria da cidade, pela qual me apaixonei na casa da amiga residente e gourmet Mariana Schapira. Há doces divinos como o de creme de amêndoas com yuzu ou o crocante de caju com frutas vermelhas.
CAFÉS ESPECIAIS
PAUL ET PAULETTE – Há uma boa loja com grãos para quem tem cafeteira em casa. Como não era meu caso, e depois de muito procurar, bati ponto nessa adorável cafeteria, para lattes, expressos e filtrados, com grãos variados de ótimas procedências. Atendimento muito simpático dos proprietários.
CHÁS
CHEZ ELEMIAH – é um salão de chá com comidinhas lindas veganas que não cheguei a provar. Foquei na bebida que tomava antes ou depois de um giro na galeria de arte, à côté.
QUEIJOS
LES TERROIRS DE FRANCE – não se deixe levar por vitrines mais ordenadas, aqui há um mestre queijeiro (a terceira geração na família) que explica com cuidado e carinho cada tipo de queijo e seu momento. Excelente seleção. Não esqueçamos que a região (Seine et Marne) é a terra do queijo brie e do menos conhecido (mas não menos delicioso) coulommiers, de massa mole e feito com leite de vaca. “Fica a dica” e o encantamento com a loja de Christophe Lefebvre e sua mulher.
VINHOS
VIVAVINO – passei por diversas lojas (não necessariamente impressionantes) de vinhos convencionais, mas me encantei, mesmo, pela seleção e atendimento dessa pequena loja de vinhos naturais, que serve comida aos fins de semana. Ótima escolha de produtores e atendimento. Convém chegar cedo se a ideia é sentar num dos 8 ou 10 lugares da casa. Os sócios conhecem profundamente os produtores e seus vinhos.
Agora o mundo deu pra listas. Até o New York Times, ora vejam, resolveu se inspirar no 50Best e escolheu os 50 lugares nos EUA que o jornal mais gosta, no momento.
Taí… decidi fazer a minha.
Não se trata de vaidade ou presunção; são apenas os melhores do MEU mundo. Sim, um mundo torto como qualquer outro, em que a gente tem de trabalhar em vez de ficar à toa, acorda de mau humor, janta com gente chata ou recebe uma lasca de concreto na testa, em animada aceleração a partir de um andaime no 20º andar de um prédio na Cidade do México, bem no momento em que sai do hospital. Pois é, aquele hospital onde o marido foi ajeitar o pé torcido, um dia antes, na calçada do Museu de Antropologia. Talvez por conta de sequências como essa, as pessoas impliquem com agosto. Injustiça… O meu foi bom.
Meu amigo Paco Torras diz que eu não frequento restaurantes, frequento pessoas. Reagi de início, mas é a pura verdade.
“Se o Zé estiver no fogão, pede o spaghetti ao vôngole!”
“Pede o bacalhau, mas tem que ser com a pimenta que o Francisco faz.”
“Gosto do boulevardier, mas só se Tatiana estiver no bar”.
Pois é. A vida não é press trip; gostamos de uns pratos, mais que de outros; de uns cantos, mais que dos outros; às vezes do ambiente, mas não dos pratos; às vezes de tudo, e então chega a conta. Pois assim montei minha lista, convicta de que mesmo com 25 anos de escrita gastronômica (sem convites), o meu “melhor” pode não se casar com o vosso…. Acontece.
Agosto foi marcado por uma quarentena de quinze dias na Cidade do México. Ao contrário da última visita, já não tinha o mesmo apetite para insetos graças à uma indisposição que fez o favor de se estender por quase toda a viagem. Se na outra visita consegui flanar por mercados de rua, comer tacos em barracas e mastigar todas as chicatanas que pude, nessa fiz um circuito menos “raiz”.
Há alguns anos, escrevi sobre os 4 restaurantes mais marcantes da cidade [aqui]. Dos quatro, quis repetir o QUINTONIL (Latam50Best), não por ter sido a melhor refeição da temporada, mas por ter um conjunto, entre ambiente e comida, muito agradável. Infelizmente, na minha volta em agosto, o ambiente já não era o mesmo e achei a reforma muito infeliz. Os pontos altos foram a carta e o serviço, muito bons; aliás, foi a maior proporção de atendentes por mesa que vi. Recomendo fortemente o branco mexicano LA LLAVE 2017, blend de Chenin e Sauvignon Blanc, sempre do Valle de Guadalupe, minha região vinícola favorita no país. Fresco, agradável e com ótima acidez.
Começando do princípio, busquei pouso em Roma, bairro cheio de joias arquitetônicas e perfeito para riscar a maior parte da minha lista de desejos, a pé. Não menos importante, havia por perto várias opções para a reposição de meus 400 ml de cafeína diários. A preferida pelo atendimento, qualidade do grão e métodos de extração foi a ALMANEGRA, com sua sala pequena e espartana. Gostei especialmente dos grãos da pequena região de Nayarit, no Centro-Oeste do México, da Finca Kalid.
Sempre me prometo dedicar textos individuais a cada restaurante, e lá vou eu rabiscar um troço por ordem de visita, mas a verdade é que o tempo livre nunca me permite cobrir todos eles (afinal não vivo disso) e daí surgiu a vontade de adiantar a lista.
Sobre o ELLY’s, restaurante que cabe em qualquer momento, seja para um drink, um copo de vinho, boa música, comida ou ambiente, já escrevi aqui. Sobre o MÁXIMO BISTROT (Latam50Best), um galpão lindo, com comida bem francesa-manteiguinha, também já escrevi aqui. Além disso, dediquei um post ao CICATRIZ CAFÉ, um bar de vinhos naturais, aqui, no maravilhoso Glupt!, de Luiz Horta.
A PANADERIA ROSETTA também já teve seu post aqui, mas não tinha desenrolado as linhas sobre o seu irmão tão famoso quanto: o RESTAURANTE ROSETTA (Latam50Best). Um lugar lindo, com pé direito altíssimo, moveis leves e claros e muitos cipós, flores, legumes e pássaros pintados pelas paredes. Pelo conjunto, é incontornável. Adorei as entradas, especialmente do prato de tomates verdes com feijão preto, uma espécie de ricota de cabra, berinjela, melaço e um vinagrete muito fresco e também de um mil folhas de cevada, excelente. Dentre os principais, preferi massas aos pratos de peixe. A carta de vinhos é quase toda de orgânicos, biodinâmicos e naturais. Tentei experimentar os mexicanos, como sempre faço, mas acho que a produção de naturais de lá está no mesmo momento da brasileira: há mais erros que acertos, mas sempre vale tentar.
O melhor restaurante, como um todo, foi o LOREA, recomendação do querido Rafa Costa e Silva (e presente agora no guia 50Best Discovery), com carta de bebidas, serviço e comida excelentes. O único senão é a escadaria para entrar, que emenda numa outra imensa, para ir aos banheiros. Fora isso, tudo perfeito, a começar pelos drinks impecáveis, tanto os sérios como o de bourbon e cevada, quanto os animados como o de grapefruit e lavanda. O serviço de vinhos foi o melhor que vi na cidade e a carta tem joias como o Jerez da Ximénez-Spinola (medium) e uma boa seleção de vinhos a copo para a harmonização, embora bastante europeia – senti falta de um rótulo local, numa cozinha tão voltada para os produtos de excelência mexicanos. Dos meus pratos preferidos, posso assegurar que a salada de beterrabas vale a visita. A flor – um cardillo – vem mergulhada no próprio suco de beterraba com creme de erva cidreira e garante a textura maravilhosa. Além dele, a inesquecível tortilla de huitlacoche, o milho enegrecido pelo fungo, uma das iguarias mexicanas incontornáveis. Nas sobremesas, a casca do plátano (primo da banana-da-terra) processada para se tornar comestível, também emprestava muito interesse e vinha com sorvete de iogurte e morango. Foi a sobremesa mais original que comi.
O CONTRAMAR é uma casa de frutos do mar clássica, com a equipe mais (milagrosamente) bilíngue entre os restaurantes visitados. Todos muito eficientes naquele salão e varanda imensos, constantemente cheios. Não é uma casa que busca a inventividade; serve pratos bons e simples (tiraditos, peixes grelhados, sashimis e tal), com ingredientes excelentes. A carta é de vinhos convencionais, corretos. Pausa para uma torta de figos de massa bruta, bem simples, mas viciante, que repetimos. Também faz parte do ranking 50Best Discovery.
Meu estômago buscava abrigo em restaurantes italianos, em dias de crise. Gostei muito de dois, por motivos diferentes. O OSTERIA DEL BECCO por um ambiente que consegue ser elegante, intimista e animado, ao mesmo tempo, com uma adorável área aberta, ao fundo. Não menos importante, uma adega de vinhos convencionais imensa no segundo andar, com vários rótulos que não estão necessariamente na carta, mas podem ser comprados e servidos ali. Há um delicioso vitello tonnato, ótima seleção de peixes crus, boas pizzas, além do serviço de vinhos adorável de Ivan, mas as massas não têm ponto tão religioso e o tiramisú não é o forte da casa. O SARTORIA me encantou pela qualidade dos ingredientes, de cabo a rabo: do pão do couvert, passando pelo azeite e vinagre que o acompanham; peixes frescos; massas feitas com boa farinha (maravilhoso fogie al pesto de menta e amêndoas) e no ponto mais correto que achei na cidade. O capricho vai até os sorvetes de fabricação própria, de sobremesa. O serviço foi muito simpático e atencioso, em todas as visitas, e a carta de vinhos mais eclética e original.
Assim termina a lista, que só pode ser escolhida dentro daquilo que visitei, por 15 dias (injusta, portanto). Muito ficou de fora, de propósito, e outro tanto porque simplesmente não fui. Isso tudo é pra dizer que listas são mesmo uma bobagem (concorde! discorde! seja feliz!), mas o que importa, e muito, é que são o pedido mais frequente dos seguidores deste blog.
Deixo as fotos para o Instagram, onde marco cada uma com a hashtag #crisbeltraociudaddemexico. Lá, também podem ser encontrados cafés, delicatessens e outras paradinhas, de qualidade. “Sem mais, despeço-me” e espero que tenham gostado do passeio sincero, um beijo, tchau.
***
Entre os visitados, meus preferidos por categoria (para quem tem preguiça de ler o texto – fazemos o possível para melhor atendê-los):
COMIDA MEXICANA CONTEMPORÂNEA – Lorea
PARA VOLTAR A TODA HORA – Elly’s
AMBIENTE – Elly’s, Massimo Bistrot, Osteria del Becco, Rosetta (não soube escolher; são estilos diferentes)
SERVIÇO – Contramar, Quintonil, Osteria del Becco
RESTAURANTE ITALIANO – Sartoria
PEIXES E FRUTOS DO MAR – Contramar
BAR DE VINHOS NATURAIS – Cicatriz
CARTA DE VINHOS – Osteria del Becco, Massimo Bistro, Rosetta (foco em naturais)
[Texto feito especialmente para o antigo blog do Luiz Horta, que agora firmou endereço no glupt.com.br]
“Quando as coisas estiverem péssimas, não faça em ritmo de tango; faça em ritmo de samba, que é melhor”. Crescemos com esse mantra familiar, frase preferida de um pai que detestava auto-piedade. Aqui, não se conta desvantagem, não há tragédias, não se valoriza o ruim. Vem a chateação, a gente bate no peito e chuta. Mas… convém não exagerar.
Minha mãe, agora com 85 anos, sempre viajou muitíssimo a trabalho ou lazer, daí o grande abacaxi de ter tido um “AVCzinho”, como diz (sambando).
Há três anos muito limitada e cadeirante, mas com sua habitual vontade de ferro, faz campanha diária por uma viagem ao exterior. Minha irmã, passista de primeira, insistiu que tudo daria certo, claro! Bastava levar duas enfermeiras, a cadeira de rodas, malas extras, remédios, improvisar a fonoaudiologia e fisioterapia obrigatórias, quarto adaptado, além da alimentação especial.
Já que era Natal, rimamos com “o escambau” e juntamos genros, netos, uma sogra, miramos no “exterior” mais próximo e partimos para Buenos Aires. A ideia era ter um hotel que resolvesse metade da aflição e simular férias da sua rotina limitada fazendo tudo igual, só que em espanhol.
Chegamos. Já na recepção, minha mãe diz: ‘que saudade do meu apartamento!’, meus filhos correm para o primeiro cômodo com senha de wi-fi, e as enfermeiras fazem a lista da farmácia. Eu só queria beber.
Se você mora no Instagram, este não é seu post. Lá, ninguém tem piriri, come mal em viagens ou tem mãe nessa situação. Foram 6 dias de reservas e expectativas furadas, num hotel apelidado de “nave-mãe”. Com sorte, escapávamos esporadicamente da órbita, em busca de pequenas alegrias.
Tentei matar saudades da LAB TOSTADORES DE CAFÉ, cafeteria preferida pelo conjunto da obra, mas dei com a cara na porta, fechada para reformas. São eles que torram os grãos de uma outra casa, a FÉLIX FELICIS, em Palermo, dona do melhor flat white de Buenos Aires, dá desconto para quem chega de bicicleta e vende um guanes (tipo de grão) colombiano exclusivo, que provei também no V-60, meu método de extração preferido.
Fugia aqui e ali para garantir suprimentos, nos dias em que a matriarca estava indisposta. Assim descobri o PASTRÓN, pastrami argentino feito com a capa do bife (a ‘tapa de asado’), que fica em salmoura por 30 dias com especiarias e pitada de açúcar e depois é cozido por 6 horas em baixa temperatura, de preferência no forno a lenha. Também provei o excelente REGGIANITO, filhote do parmiggiano reggiano e feito em rodas menores (de 6,8kg), um pouco mais salgado e envelhecido apenas por 6 a 8 meses. Pequenos regalos.
Nada disso funciona sem pães, e alguns dos melhores se acha na SELVAGE, padaria dentro de uma garagem de Palermo. Nas paredes, fotos de Pink Floyd, Kurt Cobain, Foo Fighters e tal. No salão, um entra e sai de gente atrás dos pães de fermentação natural que fizeram a fama da casa, e eu, na fila do pan dulce (panetone) feito com massa madre antiga e passas maceradas no ótimo vermute LA FUERZA, produzido nos Andes. Algo delicioso e original, se tiver sorte de passar pela cidade no Natal.
Outro pequeno prazer foi visitar, no vazio do feriado, o Centro antigo da cidade, acinzentado, silencioso e bonito, de um jeito melancólico. De repente, um oásis: a sorveteria CADORE, única loja aberta. É corredor sóbrio, simples e sem adornos, com seus tambores de metal alinhados, merecido patrimônio cultural da cidade por sua qualidade. Mesmo não sendo fã de doces muito doces, é impossível evitar o sabor icônico feito do mesmo jeito desde 1957. Leite, açúcar e baunilha cozidos por 14 horas fazem a base perfeita do bloco denso de doce de leite gelado. Rimei com uma bola de pistache e fiz uma pequena prece pelo milagre de Natal.
O grupo de onze também foi salvo duas vezes pelo SOTTOVOCE, um italiano gostoso de bairro, nada hipster, que acomoda sem cara feia grupos grandes, onde comi (e repeti) um excelente mellanzane alla parmiggiana.
Não poderíamos passar sem uma ceia, e escolhemos a da nova casa de carnes do Hotel Alvear, com menu em torno do tema – bife ancho, cordeiro, pato – em ponto perfeito. O hotel também acaba de ganhar rooftop simpático, que encontramos fechado duas vezes por conta da chuva, nesses dias de Instagram reverso.
Adorei a CASA CAVIA, linda construção palaciana de 1927, reformada pela KallosTurim, arquitetura e design. Lá dentro, florista, loja de perfumes, livraria de charme e um lindo pátio central, onde faria questão de ficar em dias frescos, mas estava quente como o inferno. A cozinha é despretensiosa (tudo era empanado e bem frito, como minha mãe gosta, fossem molejas, peixes ou polvo) mas é lindo, divertido e funciona naquele todo adorável, com ótimo serviço e boa carta. Entrou no guia 50Best Discovery.
Minha refeição preferida foi no ELENA, novo restaurante do hotel Four Seasons (e presente no Guia Latam50Best). A começar pelo serviço da sommelière Dulce Long, o mais elegante da cidade. Comi salada de abóbora assada com suas sementes e queijo halloumi, deliciosa e bem temperada, seguida de umas costeletas de porco com barbecue, de matar. Tudo perfeitamente executado, que é o que interessa, sem firulas e bem apresentado.
Assim sambamos La Cumparsita, buscando felicidade enquanto tudo dava errado. A viagem de volta foi um inferno com subsolo. Havia uma multidão no aeroporto, filas intermináveis, horas e horas numa cadeira de rodas que tinha um problema no assento, e tudo isso regado pelo habitual medo de avião de minha mãe. Em um dado momento, chegou a ficar lívida e perdeu os sentidos de exaustão. Jurei não repetir.
Já em casa, peguei em suas mãos para ter uma conversa em tom grave:
“Mamãe, veja que odisseia terrível e sacrificante. Acho que agora temos certeza de que, infelizmente, não dá mais para viajar de avião”. Resignada e estafada, diz: