Nae:UM, Singapura

Achamos a Dias Ferreira de Singapura!

É fácil ler sobre o assunto; difícil é aprender na pele. A primeira lição daquela ilha/país do tamanho da Zona Oeste do Rio é que “um lugar na linha do Equador” não é um conceito abstrato. Qualquer roupa parece muita roupa, nenhum tecido é fino o suficiente e não há 4 estações. Existem 30 graus o ano inteiro e cada um deles parece entrar em você, cheio de empolgação e umidade.  

Evitei o reflexo da vitrine onde percebi o imenso estrago da curta caminhada (cabelo colado na testa, roupa colada no corpo). Era hora de entrar no coreano Nae:UM.   

O salão, pequeno, claro, simpático e sem excessos, me recebeu como um céu, em temperatura e serviço.

Comida coreana faz muito sucesso em Singapura e vários de seus restaurantes estrelados são de lá. Aliás, por ser o menor país do mundo em área, é um ótimo showroom de ingredientes de países próximos. Muitos frutos do mar vêm da Austrália, vários peixes e frutas vêm da Malásia, Filipinas ou Indonésia, o wagyu vem do Japão, chás da China e por aí vamos.  

Bastou a dentada num dos amuse bouche: um tartare de madai (o pargo vermelho asiático) marinado em soja picante, daikon fermentado, merengue de dashi e pó de kimchi para entender que estava num excelente restaurante. 

[Um detalhe: derrubei acidentalmente o merengue no prato, que despencou todo desarrumado. Catei pedacinhos e comi mesmo assim, claro, só que em segundos a equipe atenta me trouxe outro. Assim se faz estrelas e o Nae:UM, sem trocadilhos, tem uma]  

Continuei devorando a barquinha de ervilhas com aioli de endro defumado em madeira de macieira e gemi com a versão compacta de um churrasco coreano: era o tteokgalbi, um pacotinho de wagyu marinado e amarrado em folha de shisô e pimentão com bolinhas de quinoa ao lado e caviar siberiano por cima, mergulhado em um molho de pinhão com infusão de óleo de cebolinha. Não sei dizer qual dos canapés estava melhor (e estão todos na foto acima).

O prato de bonito estava absolutamente maravilhoso. Vinha com groselha, melão e flor de gengibre sobre uns noodles camuflados lá embaixo que sugavam todo o caldo delicado feito de artic char (peixe) com alho poró.   

A barriga de kurobuta (um porco de grande pedigree) ficou leve e refrescante naquele somyeon. Um zaru soba (massa fria de trigo sarraceno) com kimchi branco, pepino em picles e tobiko (ovas de peixe-voador). Mar e montanha numa de suas melhores versões.  

Em seguida, o raro camarão azul (obsiblue) da Nova Caledônia escaldado e servido frio sob ouriço de Hokkaido e uma lâmina de vieira gigante. Tudo em caldo defumado bem láááá no fundo. Uma poesia.  

Houve também um salmonete com toque de pimentão e, em seguida, um barbecue de wagyu com banchan (diversos acompanhamentos): purê de salsão, cogumelos com salada de daikon e pimentão verde e batata doce com ervas.  

Na Ásia, é comum terminar a refeição com um prato de arroz. O da casa veio fresco e aromático com 3 tipos de grãos de arroz, cenoura, cebolas, gergelim, porco desfiado e umas trufas que eu nem sabia que existiam na Austrália. Ao lado, extra molho do porco, kimchi e legumes em picles. Delicioso.

No Nae:UM só há menus degustação (um maior e um menor) e o cardápio de cada estação do ano é tratado como uma série de TV. O nome da temporada que eu devorei era algo como “churrasco no quintal” e dou um sneak peek da próxima: “comidas que a equipe devora depois do trabalho”. 

O calorão de Singapura é capaz de tirar o apetite e foi muita comida, eu sei… mas ingredientes que traziam acidez, textura, brincavam com a temperatura ou equilibravam a gordura e me faziam ir sempre adiante. Eis o segredo de um bom menu-degustação.

Voltando… A última etapa do almoço foi apresentada pelo próprio chef Louis Han que explicou que um bom churrasco coreano se encerra com frutas e soju, o destilado de arroz. Assim, decidiu terminar o “episódio” com um sorbet de melão e limão verde sobre iogurte de baunilha e xarope de melão. Por cima, granita de soju com melão. 

O nome do restaurante quer dizer “uma fragrância que evoca memórias”. Achei muito acertado para um lugar que deixou belas lembranças no estômago e me fez desejar outra temporada na companhia do filhote, que decidiu estudar lá no outro lado do mundo.

Link do restaurante: Nae:um

Para mais fotos e vídeos sobre o restaurante, clique AQUI

6 comentários sobre “Nae:UM, Singapura

  1. Já te falei q a gente “viaja” junto nos seus textos.. Sempre ótimos! Adoro também a tecla SAP que ajuda a decifrar os pratos.. Me sinto menos ignorante kkk
    No aguardo a próxima temporada…

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